MÉDICOS INJUSTIÇADOS: O QUE NUNCA
É NOTÍCIA
Destruição
de reputações ilibadas na mira da irresponsabilidade
Quase todos os dias, são divulgados casos
dos chamados "erros médicos". Esses ocorrem quando profissionais da
saúde agem com imperícia, negligência ou imprudência. No entanto, o que
raramente é mencionado — e que frequentemente chega aos escritórios de
advocacia que defendem profissionais liberais, especialmente médicos — é que
muitos dos fatos interpretados como falhas desses profissionais são, na
verdade, uma grande injustiça.
Essa iniquidade (termo usado na Bíblia
para designar injustiça) não afeta apenas a vida profissional dos acusados, mas
também suas famílias. Embora existam seguros para esse tipo de situação, eles
só concedem indenização após a sentença. Além disso, como os processos
geralmente não tramitam em segredo de justiça, qualquer pessoa pode ter acesso
às informações, manchando a reputação do profissional. A facilidade de
encontrar essas informações na internet agrava ainda mais o problema.
O acusado enfrenta três grandes
desafios: um processo disciplinar no Conselho Regional de Medicina, um
inquérito policial que pode resultar em ação penal na esfera criminal e, ainda,
uma ação indenizatória na esfera cível.
E por que afirmo que são injustiçados?
Porque, muitas vezes, esses profissionais precisam provar que não tinham
condições adequadas de trabalho. É extremamente comum, em nosso país, hospitais
que contam apenas com plantonistas despreparados para todos os tipos de emergência,
além de um número insuficiente de auxiliares de enfermagem — alguns dos quais
nem são enfermeiros. E, quando há profissionais capacitados, frequentemente
faltam equipamentos adequados, como aparelhos de ultrassom, ou até mesmo
medicamentos essenciais.
É bem verdade que quando ocorrem óbitos
ou lesões em pacientes dentro de clinicas ou hospitais, pelo Código do Consumidor,
cabe à tais empresas provar que não tiveram culpa ( é a chamada inversão do
ônus da prova ) para se livrarem das
indenizações mas então os próprios estabelecimentos onde atuam tais
médicos também tentam imputar a
eles a obrigação ficando então tais médicos sob duas espadas –
do pacientes ou seus familiares e
também dos locais que não lhes deram suporte técnico .
Claro que existem casos tão notórios e já
dotados de provas incontestáveis que o responsável deve responder na medida de
sua culpabilidade.
Mas, diante de notícias que envolvem médicos que, como
seres humanos são, como todos nós, falíveis, devemos sempre analisá-las com cautela
e não usarmos do anonimato da internet para agredir quem quer que seja até
porque existe um princípio fundamental de presunção de inocência – segundo o
qual toda pessoa é inocente até que se prove o contrário.
Não se pode destruir a carreira de
alguém inocente com meras suposições e quando este alguém não tinha as
ferramentas necessárias para a realização do que lhe competia.
O processo carrega uma carga de
sofrimento que nenhuma sentença pode reparar. (Carnelutti)
Margareth Zanardini – advogada combativa
há 44 anos. Autora dos livros “Os
danos do amor, dos namoros intencional ou diferenciado até que o litígio ou a
morte os separe” e o manual para estudantes e recém-formados “Armas básicas
para advogados combativos“.